The New York Times – Por mais de um século, a sede global por combustíveis fósseis tem crescido incessantemente, enquanto a humanidade continua a consumir quantidades crescentes de carvão, petróleo e gás natural ano após ano, alimentando residências, veículos e fábricas. Pico na demanda de combustíveis fósseis deve ser alcançado em 2030 antes de começar a decair.
No entanto, uma mudança notável parece estar à vista. A principal autoridade em energia mundial agora prevê que a demanda global por petróleo, gás natural e carvão atingirá seu ponto máximo em 2030, em parte devido às políticas já adotadas por nações em apoio a fontes de energia e transporte mais limpas.
A Agência Internacional de Energia (AIE) afirmou em seu World Energy Outlook, um relatório de 354 páginas sobre tendências energéticas globais divulgado em 24 de outubro, que um pico no uso de combustíveis fósseis não será suficiente para combater o aquecimento global. Para isso, as emissões de carvão, petróleo e gás precisariam se reduzir a quase zero. No entanto, uma transformação radical no cenário energético global já está em curso.
Até 2030, poderá haver 10 vezes mais veículos elétricos nas ruas do que hoje, de acordo com o relatório. As fontes de energia renovável, como solar, eólica e hidrelétrica, poderão fornecer 50% da eletricidade global, em comparação com os atuais 30%. As bombas de calor e outros sistemas de aquecimento elétrico poderão superar os aquecedores a gás e a óleo. O investimento global em parques eólicos offshore pode superar o investimento em usinas de carvão e gás.
Se essas projeções se concretizarem, a demanda por petróleo e gás provavelmente se estabilizará ligeiramente acima dos níveis atuais nas próximas três décadas, aumentando nas nações em desenvolvimento e diminuindo nas economias avançadas. A demanda por carvão, o mais poluente dos combustíveis fósseis, começaria a diminuir, embora possa variar ano a ano, por exemplo, em caso de maior uso de usinas de carvão durante ondas de calor ou secas.
“A transição para a energia limpa está acontecendo globalmente e é inevitável”, disse Fatih Birol, diretor executivo da Agência Internacional de Energia. “Não é uma questão de ‘se’, é apenas uma questão de ‘quando’ – e quanto mais cedo, melhor para todos nós.”
A previsão da agência sobre o pico na demanda por combustíveis fósseis até 2030 gerou controvérsia. Após o diretor Birol mencionar essa possibilidade em setembro, a Opep alertou que tais previsões são altamente incertas e podem levar países e empresas a subinvestir em exploração de petróleo e gás. Se a demanda por combustíveis fósseis não cair como previsto, a falta de oferta poderia levar a um “caos energético”, argumentou o cartel.
No ano passado, a Opep divulgou sua própria perspectiva, prevendo que a demanda global por petróleo e gás natural continuaria a aumentar até 2045.
O relatório deste ano enfatiza que a China desempenhará um papel crucial na determinação do futuro energético global. O país é responsável por metade do uso global de carvão e impulsionou dois terços do crescimento da demanda global de petróleo na última década. No entanto, o apetite da China por aço e cimento pode estar se estabilizando, o que prejudicaria a demanda por combustíveis fósseis.
As previsões da agência podem ser influenciadas por mudanças nas políticas energéticas dos países. Mesmo se a demanda por combustíveis fósseis atingir seu pico na década atual, políticas climáticas mais rigorosas são necessárias para evitar que o aquecimento global ultrapasse 1,5 grau Celsius, uma meta endossada por muitos líderes mundiais para reduzir o risco de perturbações climáticas catastróficas.