A expansão da Energia Renovável no Brasil está enfrentando um obstáculo que pode se arrastar por anos: os cortes na geração de energia em usinas solares e eólicas, causados por gargalos na infraestrutura de transmissão. Segundo o Itaú BBA, essa realidade já impacta decisões de investimento e pode se manter crítica até pelo menos 2029.
Mesmo com o avanço de estudos do governo federal para reestruturar a operação do sistema elétrico, os analistas do banco apontam que as medidas não devem ser suficientes para resolver o problema. E o alerta é direto: mesmo em cenários conservadores, os curtailments (cortes operacionais) devem girar em torno de 5% até o fim da década, podendo ultrapassar 15% em anos de maior uso da energia hidrelétrica.
No primeiro trimestre de 2024, os cortes médios chegaram a 16% da geração renovável, com pico de 25% em fevereiro. As empresas mais afetadas até aqui, em termos absolutos, incluem Auren, Engie, Equatorial, Copel e Serena, enquanto Alupar e CPFL também aparecem entre as mais impactadas proporcionalmente.
A situação gerou forte reação do setor. Durante um evento em São Paulo, a presidente da ABEEólica, Elbia Gannoum, foi enfática: “Vivemos os piores momentos da indústria da energia brasileira.” Com fábricas fechando, como as da Siemens e GE no Brasil, e a demanda em queda, estima-se que as perdas no setor ultrapassem R$ 2 bilhões.
Para tentar conter a crise, o Ministério de Minas e Energia vem pressionando o ONS (Operador Nacional do Sistema) para flexibilizar os limites de escoamento da energia do Nordeste, região com maior potencial solar e eólico do país. Um grupo de trabalho também foi criado pelo CMSE para revisar os critérios atuais de corte.
No entanto, especialistas alertam que o problema é estrutural e previsível. Luiz Maurer, da Principal Energy, afirma que não é razoável esperar que essas perdas sejam repassadas aos consumidores. Ele lembra que o crescimento acelerado nas renováveis foi impulsionado por subsídios com prazo para acabar, criando um ambiente de investimento de alto risco — conhecido, segundo ele, por todos os agentes do setor.
E a crise não é exclusividade brasileira: China, Chile e Irlanda também enfrentaram problemas semelhantes, mostrando que o desafio global está menos na geração e mais na capacidade de transportar a energia até o consumo final.
A pergunta que fica: estamos realmente prontos para a transição energética, ou só aceleramos sem olhar o mapa?