O Brasil alcançou um marco histórico em 2023: pela primeira vez desde 1988, a energia renovável superou as fontes fósseis na matriz energética nacional, representando 51% do total consumido no país. Os dados são do Balanço Energético Nacional, publicado pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE), e revelam um passo importante rumo à tão falada transição energética.
O crescimento expressivo de fontes como solar, eólica e biomassa vem mudando o cenário energético brasileiro. Só em 2023, a geração de eletricidade via energia solar cresceu 68%, enquanto a eólica aumentou 17%. Com um regime hídrico favorável, a dependência de usinas termelétricas fósseis caiu, favorecendo uma matriz mais limpa e diversificada.
Essa mudança também impactou positivamente na emissão de gases do efeito estufa. Segundo o SEEG, o setor de energia emitiu 420,1 milhões de toneladas de CO₂ equivalente em 2023 — queda de 3% na intensidade de carbono em relação ao ano anterior. Isso foi possível não apenas pelas novas fontes renováveis, mas também pela continuidade do uso de hidroeletricidade e da biomassa da cana-de-açúcar, velhas conhecidas da matriz brasileira.
O avanço, no entanto, ainda convive com contradições. Uma delas é a exigência criada pela Lei 14.182/2022, que obriga o país a contratar 8 GW em termelétricas a gás a partir de 2026. O problema? Essas usinas terão que operar em 70% do tempo, mesmo que o sistema tenha condições de gerar energia por fontes mais limpas — o que pode frear o avanço das renováveis e gerar impactos ambientais desnecessários.
Além do setor elétrico, a indústria também ampliou o uso de fontes limpas — com destaque para os segmentos de alimentos, bebidas e papel e celulose. No setor de transportes, ainda dominado por combustíveis fósseis, o etanol segue ganhando espaço como alternativa sustentável.
Especialistas alertam: o Brasil tem todas as condições de liderar a transição energética global, mas precisa garantir que ela seja justa. Isso significa incluir comunidades vulneráveis, investir em transporte público limpo e elaborar planos de reconversão econômica para regiões ainda dependentes dos fósseis, como municípios gaúchos com termelétricas a carvão.
A virada de chave em 2023 mostra que o Brasil pode. Agora, o desafio é garantir que a transição energética não só continue — mas beneficie a todos.