Grandes investimentos em renováveis estão encalhados no Nordeste brasileiro, segundo especialistas. O motivo? A rede elétrica da região já não comporta novos projetos. Pelo menos quatro empreendimentos — incluindo usinas de hidrogênio verde e um data center da Casa dos Ventos — tiveram o acesso negado pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS). Juntos, somam mais de R$ 115 bilhões travados.
“Hoje, nenhum projeto consegue um novo parecer de acesso no interior do Nordeste. Não há mais margem para conectar”, alerta Francisco Habib, diretor da Casa dos Ventos, durante o Intersolar Summit Brasil. Ele fala em um “colapso sistêmico” iminente, que ameaça não só novos projetos, mas o próprio avanço da matriz renovável.
E não é por falta de demanda: a produção existe, mas a energia não consegue escoar. Segundo o ONS, o problema está na falta de infraestrutura de transmissão para absorver os altos volumes solicitados. Apesar de estudos da Empresa de Pesquisa Energética (EPE) indicarem margem disponível, o Operador sustenta que não há rede suficiente para atender com segurança.
Enquanto isso, bilhões deixam de girar a economia do Nordeste. Entre os projetos travados:
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Voltalia: US$ 3 bilhões (~R$ 17 bi)
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Fortescue: R$ 20 bilhões
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Casa dos Ventos (H₂V): US$ 5 bilhões (~R$ 28 bi)
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Casa dos Ventos (Data Center): R$ 55 bilhões
O impacto já aparece: até 20% da energia gerada no Ceará é desperdiçada, segundo o professor Raphael Amaral, da UFC. Com o curtailment (restrição da geração para evitar sobrecarga) e a infraestrutura insuficiente, ele alerta: “Nossas usinas podem virar os novos elefantes brancos.”
A saída? Armazenamento em baterias ou hidrogênio verde, apontam os especialistas — mas ambas as soluções enfrentam alto custo e incertezas tecnológicas.
Enquanto as soluções não chegam, a energia que poderia impulsionar o desenvolvimento da região segue… sem destino.